quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Etnografia do Nordeste de Trás-os-Montes

Enquadramento da Região 

Terra Fria Transmontana – Concelhos de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro e parte do concelho de Mogadouro.
Culturalmente grande parte desta zona está incluída na área de influência da língua Ásturo-leonesa falada em Portugal, ou seja, o Mirandês (nos concelhos de Miranda e algumas aldeias do concelho de Vimioso) e outras variedades do mesmo Asturo-leonês, como o Riodonorês, o Guadramilês, os dialectos de Deilão e Petisqueira (Concelho de Bragança). Existem também outras áreas no Nordeste Transmontano em que o Português é influenciado pela língua Ásturo-leonesa.

Breve História da Região
Em 297 d.C. dá-se a definitiva divisão administrativa da Península Ibérica.
Grande parte da denominada Terra Fria Transmontana, sobretudo a zona ocupada pela antiga Terra de Miranda (muito maior que o actual concelho de Miranda, incluindo à época o concelho Miranda do Douro, grande parte do concelho de Bragança e concelhos de Vimioso e Mogadouro) no nordeste Transmontano, ficou a pertencer ao Conventus Iuridicus de Asturica Augusta (Astorga – Leão) e não ao de Bracara Augusta (Braga – Portugal).
Assim, a zona da antiga Terra de Miranda não pertenceu desde o início ao território posteriormente ocupado pelo Condado Portucalense, daí que por exemplo a língua aí falada não pertencesse ao sistema Galego-Português (a que pertence a língua Portuguesa) mas sim ao sistema Asturo-leonês (a que pertencem a língua Asturiana e os falares antigos da província de Zamora e Leão em Espanha).
Entre o séc. VII/VIII e XII a Terra de Miranda pertenceu à Diocese de Astorga - Leão/Espanha – apesar de já fazer parte de Portugal
As Inquirições de Affonso III informam-nos de que a Terra de Miranda, entre os sécs. XII e XIV, foi recolonizada com gentes oriundas das terras de Leão em Espanha; recolonização essa, em que o papel primordial foi desempenhado pelos mosteiros cistercienses de Sta. Maria de Moreruela (Zamora/Espanha) e de S. Martinho de Castanheda (Zamora/Espanha), assim como pelo Mosteiro de Castro de Avelãs de Bragança (afiliado ao de S. M. de Castanheda), pela Ordem dos Templários de Alcanhices (Zamora/Espanha) e vários particulares.
Esta colonização, realizada numa região ainda hoje de baixa densidade populacional (39) e então decerto pouco menos de deserta, estendeu-se desde o princípio do século XIII até ao século XV, como admitiram o Abade de Baçal e Leite de Vasconcelos (40) – tempo mais que suficiente, se não para o estabelecimento, pelo menos para a fixação do dialecto leonês e cultura afim em terras já politicamente portuguesas.
Tudo isto ajudou a que esta zona mantivesse, num período assaz importante para a história da língua Portuguesa, relações privilegiadas com as terras do antigo Reino de Leão e que a língua leonesa ocidental, idioma originário do Conventus de Asturica Augusta, se fosse reciclando em terras portuguesas, pelo menos, até ao séc. XIV.
Além da divisão dos reinos de Portugal e Leão em 1143 e do estabelecimento das fronteiras no tratado de Alcañices (1297), manteve-se uma unidade social e cultural com as regiões espanholas da Sanábria, Aliste e Sayago (Zamora): um dialecto parente, as mesmas canções e melodias, a utilização de instrumentos parecidos e uma raiz comum dos costumes festivos.